A ciência sobre as mudanças climáticas continua a revelar dimensões alarmantes do aquecimento global, com um novo estudo sugerindo que o Ártico pode experimentar seu primeiro dia sem gelo marinho já em 2027. Publicada na terça-feira, 3 de dezembro, na revista Nature Communications https://www.nature.com/articles/s41467-024-54508-3, a pesquisa utiliza modelos de computador para projetar o derretimento total do gelo, mostrando que, em um cenário mais pessimista, esse evento pode ocorrer em apenas três a quatro anos.
Este estudo inédito, realizado por uma equipe de climatologistas da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, foi conduzido com base em milhares de simulações, mas os pesquisadores selecionaram cerca de 300 que consideraram as mais realistas. “O que mostramos é que todos os eventos necessários para o derretimento completo do gelo já aconteceram no mundo real. Foi apenas uma questão de tempo e sorte para que isso ocorresse na sequência certa”, explica Céline Heuzé, professora sênior de Climatologia e uma das autoras do estudo.
O derretimento do gelo marinho no Ártico já é um processo observado há décadas, mas os novos resultados apontam que o aquecimento das correntes oceânicas tem desempenhado um papel crucial. Segundo Heuzé, as águas mais quentes têm afinado progressivamente a camada de gelo, derretendo-a por baixo, o que torna o processo mais constante ao longo do ano. No entanto, o fator que mais tem acelerado o degelo não é o aquecimento gradual, mas sim eventos climáticos extremos, como ondas de calor e tempestades intensas.
“Nosso estudo descobriu que os primeiros dias sem gelo, conforme projetados pelos modelos, ocorrem durante períodos de rápida perda de gelo e são associados a invernos mais suaves seguidos por primaveras excepcionalmente quentes”, revela Heuzé. A interação entre essas ondas de calor e o derretimento do gelo foi um dos pontos mais destacados no estudo, sinalizando que o fenômeno pode ocorrer de forma mais abrupta do que os cientistas haviam previsto anteriormente.
Embora os cenários mais pessimistas indiquem que o Ártico pode ficar sem gelo no verão de 2027, o estudo também destaca a relevância das políticas climáticas. Caso haja uma redução substancial nas emissões de gases de efeito estufa, a previsão de derretimento poderia ser postergada, mas a probabilidade de um derretimento total dentro das próximas duas décadas parece quase certa. “A maioria das simulações indicou que o primeiro dia sem gelo poderia ocorrer dentro de nove a 20 anos após 2023, independentemente de como as emissões sejam controladas”, afirmou Heuzé.
Esse novo cenário coloca ainda mais pressão sobre os líderes mundiais, que enfrentam um dilema crescente sobre como equilibrar os interesses econômicos e a urgência climática. O Ártico, tradicionalmente considerado uma das regiões mais remotas e resistentes às mudanças climáticas, agora parece ser um dos primeiros locais a demonstrar a severidade dos impactos do aquecimento global.
A perda do gelo marinho no Ártico não é apenas um evento ambiental de grande importância local. Ele carrega consigo uma série de implicações globais. O derretimento do gelo afeta os padrões climáticos em diversas partes do mundo, aumenta o nível do mar e pode até mesmo alterar correntes oceânicas cruciais para o clima global. Além disso, o Ártico tem sido um termômetro para as mudanças climáticas, com o derretimento expondo mais áreas de águas abertas, que absorvem mais calor do que o gelo, acelerando ainda mais o aquecimento da região.
A previsão de um dia sem gelo no Ártico em 2027 soa como um alerta claro para o planeta. A janela para mitigar os efeitos do aquecimento global pode estar se fechando mais rapidamente do que muitos imaginavam, e as futuras gerações podem ter que lidar com as consequências dessa transformação sem precedentes. O tempo para agir, de acordo com o estudo, está se esgotando.
Por Jornalista Edison Lenn (RG: Prof. 16430)